Pensamento do dia:

"O conhecimento leva as pessoas a lugares inimagináveis".




segunda-feira, 26 de julho de 2010

Cativeiro (Mais um de minha autoria)

Cativeiro




O estranho é que tudo começou em um dia normal, era uma quarta-feira se me lembro bem, o sol brilhava como nunca, mas de repente tudo se envolveu em escuridão, após isso, não consegui mais abrir meus olhos.
 Quando recobrei a consciência, abri os olhos mais não enxergava nada e estava completamente imobilizado, o único movimento que eu tinha era do lugar que eu estava, que por sinal balançava muito; ouvia bem ao longe pessoas, creio eu, conversando sobre um tal de cativeiro....resgate...e morte....não me lembro bem, minha cabeça doía muito.
  Reparei que de repente o lugar onde eu estava parou de se mexer, as vozes ficavam cada vez mais altas e nítidas até chegarem ao meu lado. Alguém me pegou pelo braço, falou que estava tudo bem e que isso tinha acabado; fiquei sem saber o que fazer, mas tendo em mente que talvez tivesse ouvido a voz de meu salvador. Estava errado. Quando me dei conta eu estava em outro lugar ainda amarrado só que com a vantagem da visão. Não era tanta vantagem assim, pois o lugar era muito escuro e tinha uma chapa de metal tapando a janela.
 Minha noção de tempo se esvaiu com a luminosidade do sol, mais creio eu que já havia se passado algo em torno de 15 horas desde que fui jogado naquele lugar. Quando se está em um local desses, o mínimo de conforto já basta, as poucas migalhas de pão já me sustentam e o odor de minhas necessidades já não é o maior incômodo.
 Pão e água eram jogados a mim através de uma janela que havia na porta.
 Quando eu finalmente consegui me soltar das cordas que prendiam minhas mãos e meus pés, tentei achar alguma forma de escapar; tentei arrancar o bloqueio da janela, tentei abrir a porta, até fiquei gritando pra ver se alguém me ouvia do outro lado, até que ouvi passos vindos em direção a porta; Ela se abriu e do outro lado vi uma pessoa encapuzada e com uma barra de ferro na mão, depois disso eu adormeci.
 Meu esforço foi em vão, me vi deitado novamente no chão e novamente amarrado. Resolvi ficar lá para evitar a dor, apenas comia o que me deixavam e me acomodava entre os detritos.
 Depois da minha segunda dor de cabeça, e dessa vez com uma dor insuportável no meu pescoço que estava sangrando, eu não tinha mais nenhuma noção de tempo, só fiquei lá, esperando alguém me tirar daquele cativeiro. Esperei tanto que acabei desmaiando de fome, meu corpo estava muito fraco, mal podia guiar minhas mãos até a comida.
 Quem diria que eu, tão perto da morte, daria tanto valor a vida. Nunca fiz mal a ninguém, nunca mereci isso, nunca quis isto pra ninguém. Mas estou aqui agora, e não há nada que eu possa fazer a não ser esperar, esperar minha morte ou minha libertação.
 Como estava exausto, não percebi a hora em que começaram a me arrastar por um longo corredor, não tive forças nem para reagir.
 Tenho uma vaga lembrança de duas pessoas conversando:
-“Pegamos o cara errado, este aqui não tem ninguém”
-“Mesmo assim fizemos com este o que fizemos com os outros, e todos aprenderam a lição”.
 Sim, eles estavam certos pelo fato de eu não ter ninguém, minha família morrera em um acidente de avião. Era pra eu estar lá também, se eu não estivesse severamente adoecido naquele dia. Irônico como uma doença me salvou da morte. Aprendi a viver sozinho, a me virar com o que eu tinha sem ninguém pra me ajudar; nem família e nem amigos.
 Pensei que estava a salvo, pois estavam me desamarrando, mas novamente me colocaram, encapuzado, naquele lugar apertado que balançava bastante. Até quando? Para que? – eu me perguntava. Será que eu fui tão mau assim nessa vida? Não conseguia ligar nada ao que estava ocorrendo, fraco demais para pensar, desmaiei. Lembro de alguns fleches depois disso como: eu jogado na beira da estrada sem o capuz, pessoas ao meu redor, um barulho de sirene muito alto, e por fim, deitado em uma cama que parecia ser de um quarto de hospital. Cansado de ficar deitado resolvi levantar e andar pelos corredores lotados do hospital, já me sentia bem melhor agora. Parei em frente a um espelho e percebi que meu pescoço estava enfaixado, mas como ele não estava lesionado nem nada, resolvi tirar as ataduras. Vi que havia marcas vermelhas no meu pescoço, e quando cheguei mais perto do espelho, vi que eram palavras. Estava escrito claramente “Você só soube valorizar a sua vida quando estava próximo da morte”.
 Essa frase tatuada no meu pescoço também fica tatuada na minha mente até os dias de hoje, e com isso aprendi a valorizar cada segundo de minha vida, soube aproveitar cada momento feliz, cada amizade nova e cada coisa simples que a vida nos dá.
 Agora eu soube que o melhor da vida é viver bem e viver intensamente.








Autor: Kallil M. Puccini

2 comentários:

  1. Impossivel ler e nao lembrar de Jigsaw!

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  2. ae kallil! parabéns kara! escatológico :p do jeito que gosto hehe continue a fazer esses contos ^^

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